23 novembro 2010

Aleja's Lifestyle - O Palito


“Aleeeeja!” disse o homem gordo e calvo parado em pose de Cristo Redentor, desviando a minha atenção da grossa camada da chantili que eu tentava sem sucesso atravessar para chegar no meu Capuccino. Ele aproximou-se rapidamente de mim e, antes que eu pudesse soletrar Quetzalcoatl, sentou-se na cadeira do outro lado da mesa da cafeteria.
- Não tá me reconhecendo? Hehehe, é que eu engordei desde o colégio e me falta cabelo para continuar usando penteado escovinha... mas sou eu, cara, o Palito!
E lá estava eu, sentado em um café conversando com um gordo que eu nunca tinha visto mais magro. Tentei puxar na memória pelo apelido “Palito”, mas não consegui lembrar de ninguém, a única coisa que me vinha a cabeça era as cataratas do Niágara, mas acho que isso era devido à quantidade de suor que escorria pelo seu rosto.
Ele não parava de falar, nem dava pausas para respirar. Cheguei a conclusão de que ele não era gordo, e sim tinha pulmões grandes e um reservatório de suor do tamanho de uma piscina olímpica, talvez alguns litros a mais. Me contou da sua empresa, que certificava a qualidade de serviços prestados por cupins em repartições públicas, e do casamento falido, aparentemento a esposa o trocou por um pote de coentro e fora morar em Acapulco, mas ele não tinha certeza. Mas assim como ele veio, foi embora e, seguindo fielmente o ritual ancestral de quando antigos colegas se encontram, saiu gritando “Temos que marcar um churrasco da turma! Te ligo!” mas não pegou o meu telefone.
Peguei o meu celular e liguei para o Noel.
-Ô, tudo bem? Cara, tu lembra do "Palito", da escola?
-Pô, claro que lembro. Bem magrinho que usava um cabelo escovinha. Minha mãe era amiga da mãe dele. Por isso até fui no enterro dele. Foi horrível quando ele morreu atropelado no segundo ano... um motorista bateu nele achando que era um poste, só descobriram uma semana depois quando a prefeitura foi consertar o poste avariado...  mas porque lembraste dele agora?
-Não, nada, não...
Desliguei o telefone e voltei para o meu Capuccino tranquilo, afinal, eu não conheço nenhum Noel também.

6 comentários:

Digo Freitas disse...

Hahahaha! Valeu a leitura!

Luiz Augusto disse...

Esquizofrenia SEM a total perda da capacidade crítica! HEHEHEH! Muito bom!

Anônimo disse...

HAHAHA RINIAGARAS

Isaque Fontinele disse...

Excelente Crônica.
Escreva-as com mais frequência aqui no blog :]

Palito disse...

História verídica!

EMN02 disse...

Surreal! Alias, surrealismo de primeira qualidade!

Ótima cronica!

Abraços